segunda-feira, 12 de dezembro de 2011


As criações humanas absorvem o lado desumano do mundo, as cores ainda predominam, brilham e prevalecem sob a escuridão do caos atual. Retrovisores arrancados por motocicletas que passaram  mais rápido que imediatamente, no outro retrovisor a vista, estão olhos cheios de interrogações sobre o estado das coisas. Pareciam- me olhos numa tela em movimento, aquela tela que nunca pintei.
Víceras são materias excelentes para se colocar no Museu, pratos fundos sem nenhuma cor, órgãos internos abstraídos em uma curadoria para criticar a própria crítica. Os visitantes pagaram ingresso? Cabelos coloridos se perderam na multidão, linhas do tempo atravessaram a cidade e assassinaram o espaço, graffites tentaram ressucitá- lo, mas já estava tudo estático.


 


terça-feira, 6 de dezembro de 2011

A Vida


Raízes e rizomas que se cruzam e criam novas formas subterrâneas
Uma umidade natural de alimento líquido, incolor e inodoro
Sementes de esperança, explosão de vida
Tronco forte como a morte
Galhos espalhados pelo espaço configurando um novo desenho
A paisagem modificada pelo silêncio do crescimento
O verde
As folhas agarradas uma a outra com familiaridade
Ramos desarranjados em espirais secas
Serpentes fortes, cortes atraentes
Ciclos renovadores
Tonalidades novas em copas robustas
Ventanias eficazes
O chão
Respiração de alívio
O renascer, o transcender, o florescer.

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Elementos

A água que satifaz
leve, em lágrimas se desfaz
Um rio que corre em silêncio
encontra o mar de forma eficaz.


A terra que germina a semente
produz a argila que seca lentamente
Aceita o concreto sem recusa
ajuda o homem em sua luta eternamente.


O ar, esse transparente respirar
alimenta asas que sonham voar
Empurra folhas velhas caídas,
sopra novos ventos, sem cansar nem parar.


O fogo transforma a obra humana
deixa cinzas e arde em chama
Traz calor, é vermelho como a dor
aquece e queima a cama, trama de quem ama.


















sábado, 19 de novembro de 2011

Episódio I

Deitou-se no divã e olhou o teto cegamente, antes de deitar-se por completo tirou os singelos sapatos dos quais não lembrava mais a numeração, naquele dia havia acordado tranquila, tomou café puro e fumou seu cigarro matinal, mas de forma alguma atendeu ao telefone, colocou seu vestido mais confortável sem nada por baixo e se dirigiu para o estacionamento pelo elevador onde encontrou uma família de japoneses, os cumprimentou educadamente, mas sem vontade, procurou durante alguns longos minutos a chave do automóvel em sua bolsa de mulher clássica, sem sucesso voltou pelo mesmo elevador a seu apartamento no 23º andar, abriu a porta da sala e avistou a chave em cima da mesinha de centro junto a um copo de uísque com gelo derretido e amanhecido, apanhou a chave e olhou no relógio seu atraso também classico. Abriu com um único toque os quatro vidros do carro e sentiu-se livre, notou que suas músicas não a agradavam mais, atirou pela janela o segundo cigarro do dia e sintonizou uma estação de rádio nacional, a melhor entre todas as que havia procurado. Trânsito, trânsito, trânsito, de saco cheio do trânsito, de saco cheio do chiclete já sem gosto, de saco cheio da paisagem urbana caótica, de saco cheio do trânsito.
Formulou frases agradáveis dos mais terríveis pensamentos para dizer a seu fiel terapêuta, enquanto subia o velho elevador do velho edifício roeu unhas, desta vez até o 12º andar pareceu-lhe uma infinidade, a coisa boa da vez é que não teve que cumprimentar ninguém, observou os quadros femininos de um consultório masculino, observou-se no espelho e se achou masculina num corpo feminino, estava sem maquiagem para quebrar a rotina, estava sem pudores, estava sem ninguém por perto e se dirigiu ao banheiro. Novamente adentrou o universo de sua bolsa pra procurar seu perfume francês de marca caríssima, desejava causar efeito ao adentrar no próximo universo, sem êxito apenas lavou o rosto e saiu, podia fazer isso naturalmente, pois estava sem maquiagem. Sentou-se na sala de espera e cruzou as pernas fatais , fatais pernas de mulher clássica. Folheou uma revista sem graça de moda, talvez daquele momento em diante sem graça por muito tempo. Anúncios, fotos, entrevistas, folhas, letras e pontos já não a interessavam mais em nada.
Esperou a saída do paciente anterior e não sabia se era homem ou mulher, mas que diferença isso faz se somos todos humanos? Foi o que murmurou baixinho para si mesma, seu atraso acabou sendo perdoado aos poucos enquanto esperava o tempo se dissolver em palavras íntimas de outra pessoa lá dentro do consultório, palavras tais que seriam dissolvidas antes de chegar até ela, isso a fez roer mais um pouco de unha, a voltar a pensar de forma curiosa sobre a vida efêmera, sobre a forma como Shakespeare escrevia no século XVI e sobre o divã que dividiria com aquele desconhecido (a), dividir o divã seria como compartilhar o mesmo filme dentro do cinema e não comentar sobre com a pessoa ao lado, mas dividimos tantas coisas com desconhecidos, até mesmo a cama... foi o que pensou dessa vez sem sussurrar, pois essa intimidade nem ela própria gostaria de ouvir em sonoridade.
Caminhou até a biblioteca disponível no canto esquerdo da sala de espera e abriu um livro de capa simples e branca, a primeira frase que leu..." Quem quer entender seu próprio destino precisa sobreviver a ele.", essa terrível doce frase gelou-lhe o estômago como em seu primeiro orgasmo, aquele que não foi fingido, ouviu um barulho de porta abrindo e deixou cair o sagrado livro, olhou nos olhos da paciente anterior que estava confirmado: era mulher! Mas essa não era nada clássica, sem absolutamente nada que a prendesse, nenhuma bolsa qualquer, nem mesmo um fone de ouvido, nem sequer um salto alto, e ainda por cima a cumprimentou com prazer e sorriso nos lábios sem batom, efetivamente se aproximou da porta deixando para trás apenas um imenso rastro de perfume nacional de qualidade duvidosa.
Ele, o único homem ali, o soberano e cauteloso terapêuta a chamou pra entrar na caixa de ressonância interior, enfim, o divã.
Deitou-se no divã e olhou o teto cegamente...







sábado, 5 de novembro de 2011

Hoje



Abrir as janelas e arder os olhos com a iluminação do sol, sentir o céu tão azul como dentro de um tubo de tinta fabricado artesanalmente, misturar-se ao vento e voar...

Escutar o silêncio, pincelar a folha em branco, terminar um livro quase impossível, chupar sorvete, mergulhar no mar, desligar o telefone, acreditar no invisível, limpar o quarto e calçar chinelos confortáveis de cores bizarras.

Escrever segredos na agenda, lavar o carro, limpar o óculos escuro, ir a uma festa infantil, pedir desculpas, olhar no espelho, doer a coluna de tanto dormir, impedir um suícidio, brigar pela paz, abraçar amigos, apertar espinhas...

Cheirar uma flor, criar coragem, desenhar o abstrato, pedir ajuda, esperar a pizza, ver filmes catastróficos, ascender um incenso, fazer carinho no cachorro, arriscar fazer uma receita antiga.

Quebrar o vidro de perfume e avermelhar junto ao outro os lábios.

Fechar a janela e descansar os olhos no escuro. Deletar a mente.

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Verbo



Abri o dicionário interior para deixar as palavras cheias de significados fugirem, pra onde foram? Talvez para a composição de uma canção, quem sabe para uma dedicatória na capa de um livro em lançamento, ou ainda, quem sabe para a tela de um computador. Fugir é necessario. Palavras são opções.



Fogem- me as palavras, letras por letras, verbos que ainda irão se conjulgar me aguardam na próxima esquina, na próxima viagem com novas formas e rebeldias incuraveis.



As gírias, estas sim são insanamente entendíveis. Permeiam as bocas como saliva, encontram na boca do outro um abrigo.



Palavras em estado de dicionário, imoveis, indiferentes, internas, inadequadas, essas brigam entre si, página a página, lutam insanamente.



Liberdade às palavras erradas, choque aos preconceitos linguísticos.



A palavra eu está indo ao encontro da palavra sonho, e a palavra encontro logo chegará.






terça-feira, 18 de outubro de 2011







Quadros pendurados em paredes que de tão brancas, aspiram e inspiram.


Estrelas cadentes caem aqui na minha cama, dentro de um quadro nada branco, brando talvez.


Luzes piscam na cidade, piscaram hoje aqui dentro também, num lugar vermelho, vermelho como o céu.


Automóveis atropelam as poesias do outro lado do mundo, e mesmo assim os dentes brancos ainda sorriem, as linguas dançam o silêncio, mãos ao vento, bolas de chicletes, vidros refletem, reflito- me.


Sinto-me corroída. Aquela cor de ferrugem, livros empoeirados, fotos antigas, o que corroi afinal, o tempo?


Procuro no universo algum lugar, um lar. Uma árvore pra encostar, uma moldura para me enquadrar.







quinta-feira, 26 de maio de 2011

Catálogo



Ontem ganhei catalogos de exposições de arte, daí a importância de registrar algo.



Encontrei um grande amigo que de tão próximo anda longe, de tão longe está tão perto.



Ele me disse pelo olhar que a vida é uma brincadeira, que a nossa história é séria.



Fui a uma exposição ontem, não entendi muito bem, era uma noite quente de outono...



Peguei trânsito, ao menos peguei!



Ontem estive ao lado de uma mulher bonita, seus olhos lacrimejaram, sempre lacrimejam.



Tenho visto tantas coisas, letras em cima de letras, daí a importância do desenho.



O céu hoje está cinza, o meu peito quente.

quinta-feira, 3 de março de 2011

Licença Poética


Pedir licença poética pode não ser tão poético assim.